Oficinas ajudam no tratamento de transtorno mental e podem ser fonte de renda
Durante as oficinas, são desenvolvidas atividades que complementam as terapias, trazendo bons resultados a pacientes / Foto: Mariana Raphael / SEE
Em meio a tecidos, pastilhas de vidro e pedaços de cerâmica, mãos e mentes estão voltadas à criação não somente de peças decorativas, mas também de uma nova realidade. A proposta do Caco Terapêutico, projeto desenvolvido dentro do Instituto de Saúde Mental (ISM), melhora o estado de saúde dos pacientes e ainda ajuda a garantir retorno financeiro, já que muitas das criações são vendidas em feiras e eventos.
A comercialização, porém, é apenas uma consequência. “O que mostramos aqui é que o lixo, como restos de tecido, tampinhas de garrafas, pedaços de cerâmica, representam o transtorno mental; e quando esses materiais são transformados em arte, passam a ter mais valor. É mais ou menos isso que acontece aqui com as pessoas”, explica a técnica de enfermagem e responsável pelo projeto, Cássia Maria.
Segundo ela, é fácil perceber essa transformação nas próprias peças desenvolvidas por eles. “Muitos chegam aqui cabisbaixos. Preferem usar preto e branco ou fazem uma mistura exagerada de cores, mostrando esse desequilíbrio. Mas, em pouco tempo, já trabalham de forma mais organizada, com as cabeças levantadas e mais felizes. Atualmente, estamos com cerca de 40 pacientes nas oficinas do Caco Terapêutico. Só podem participar aqueles com prontuário ativo, e precisam ter frequência para continuar no projeto”.
Atividades
Há um ano participando do Caco Terapêutico, Rita de Cássia é a prova dessa transformação. “Aqui me sinto feliz. Quando estou em casa, sinto coisas que nem gosto de comentar, mas aqui, eu vivo de novo. É a minha segunda casa”, relata ela, enquanto cola pedaços de cerâmica em uma escova de engraxate. Além do mosaico, Rita é mestre em fazer bonequinhas abayomi. “Quando perco o sono, já começo a fazer. Já produzi mais de mil”, conta.
Frequentadora há um mês, a jovem Gláucia Ribeiro Nascimento, 22 anos, relutou em ir à terapia, mas, depois de dois encontros, já está gostando. “Vim na marra no primeiro dia. Fiz uma abayomi e conheci a história dela. No segundo dia, já vim mais animada. Trouxe uma caixinha para fazer o mosaico e estou gostando. É gratificante ver a peça ficando pronta. Mostra que sou capaz de fazer algo”, destaca a moça, que se trata de uma depressão.
As oficinas acontecem todos os dias, porém, com trabalhos diferentes. No rol das atividades, destacam-se tapeçaria, abayomi, cata-tampas, pintura e desenho, mosaico, além de automassagem e terapia comunitária.
As peças desenvolvidas são expostas em feiras e eventos, com possibilidade de comercialização. Parte do valor fica com os pacientes criadores dos trabalhos e uma parcela fica ao Caco Terapêutico, para compra de alguns materiais.