Com a ajuda de músicos e amigos, o escritor Mário Pacheco mantém viva a tradição de se fazer eventos musicais com as próprias mãos
O paulista Mário Pacheco é jornalista cultural, colecionador e escritor e aos 54 anos mantém viva sua paixão pela música, organizando eventos no palco de sua casa. O palco antológico fez parte da história do rock and roll brasiliense dos anos 80. Em entrevista ao Portal de Jornalismo IESB, Mário Pazcheko, como gosta de ser chamado, conta sobre como obteve o palco e sua trajetória ao longo dos anos.
Como você conseguiu o palco?
O palco é de 1981. No início, ele circulava sem rumo por Brasília. Foi visto na Secretaria de Cultura e depois na Escola Parque da 308 Sul, como laboratório de teatro. Em 1996, a SLU (Serviço de Limpeza Urbana) iria limpar a frente do comércio na QE 40 para a chegada do asfalto. O serralheiro responsável pelo palco na época disse que tinha de remover ele do local. Ele me disse que eu poderia levá-lo para casa se quisesse. Penso que a minha casa era o lugar ideal para ele e até hoje é. No fim, um caminhão nos ajudou a deixar o palco em casa.
Qual a sensação de ter um palco em casa?
A pior sensação do mundo é olhar para o palco vazio e ver que poderíamos ter uma ação ali. Acontece o tempo todo e eu acredito que se repete com todos os palcos que fiquem desocupados.
Como você organiza os eventos na sua casa, você faz com antecedência?
Parece que você joga tudo pra perder nessas coisas, mas você sempre ganha. Planejamento, levantamento, orçamento. Sem essas três diretrizes, sem chances do show acontecer. Às vezes, essa antecedência para marcar o evento é de 24 horas.
O palco abriu mais de 300 shows em sua trajetória e recebeu ao todo 146 artistas
Qual a sua forma de escolher as bandas para tocarem, você pega de todos os estilos musicais?
Eu gosto de juntar o mesmo de sempre. Quando trata-se de MPB, um nome com brilho próprio como Gérson de Veras, Juka, César de Paula, Betto Tutu. Depois é hard rock e bandas de baile. Quando rola um grunge é legal. A maioria dos músicos canta em português.
Com o risco do palco dar problema, como é manter a amizade com os músicos e fazer com que eles toquem na sua casa sem cachê?
A gente põe a rapaziada pra dançar, pra curtir, pra pintar. Sempre foi, sempre será assim. O cachê é uma demanda do faturamento. A gente não pode se esquecer disso. Meu palco é o melhor palco de rock’n'roll do mundo e ele jamais vai furar.
Quais são os maiores dilemas para continuar fazendo os shows na sua casa?
Pois é, o dilema é: quando é que eu quero, quando é que eu posso, quando é que eles podem. Então é isso um dilema a ser resolvido, mas é só. Já a ideia de abrir os shows para muitas pessoas nunca me passou pela cabeça.
Quantos shows você fez esse ano?
Esse ano eu fechei a porta. No início do ano devem ter rolado duas jams. Teve um acústico no carnaval, com um trio de músicos do Mel da Terra, Liga Tripa e Módulo 1000. Aí rolou o aniversário de 36 anos (de Brasília) em abril e acendemos todas as luzes da casa e em maio eu fiz um flash rock.
Em quais anos você fez mais shows?
Em 2016 e 2017. Em cada ano fiz 10 concertos, apareceram mais de 30 artistas.
Você tem problemas com a vizinhança por causa do palco e do barulho?
A vizinhança tolera ou respeita. O nosso horário é exemplarmente seguido até às 22 horas e, depois, fim de festa.
Por Alexandre Lopes.